Setor nacional de bicicletas sofre com a escassez de mecânicos e falta de profissionalização no segmento
Fonte: Revista Bicicleta por Álvaro Perazzoli
No mês de outubro de 2011, a Aliança Bikes (associação resultante da união de empresas brasileiras de bicicleta) anunciou a formatura de sua primeira turma de mecânicos.
Os 13 novos profissionais receberam um diploma emitido pelo SENAI, instituição que realizou o curso com duração de seis meses, em parceria com a entidade. De acordo com a Aliança, esse é um passo importante na profissionalização do mercado.
A implantação do projeto é de extrema importância devido à atual realidade do segmento de bicicletas. Os setores especializados e populares carecem de mão-de-obra e de que grande parte dos profissionais atuantes passe por uma reciclagem e tenham constantemente atualizações sobre as novas tecnologias e componentes.
“A tendência é melhorar com esse curso técnico. Atualmente nós temos mecânicos de bicicletarias e mecânicos de bike shops. Estes últimos são completamente diferentes por terem um conhecimento maior”, diz Milton Aparecido de Freitas, profissional que atuou em diversas empresas do segmento e atualmente trabalha em uma importadora de bicicletas.
Atualmente, a grande maioria dos mecânicos entra nas lojas com o “notório saber” ou como aprendizes e se profissionalizam com a experiência das inúmeras tentativas e erros, que muitas vezes são feitas em bikes de clientes. Mais ou menos como a transmissão de conhecimento que se iniciou com os artesãos no Século XI.
A revolução industrial já foi feita há mais de 150 anos e ter ainda esse tipo de cultura em lojas é retrógrado e vergonhoso para todo o setor. Mas com a atual realidade do segmento de bicicletas brasileiro, os lojistas são obrigados a ter essa atitude por não encontrar mão de obra especializada.
É verdade que grandes profissionais do mercado começaram sendo aprendizes, mas são algumas exceções, pois nem sempre o “professor” em questão é uma boa referência.
A história de Alisson Frias, o “Piuí”, é diferente. Ele é atualmente proprietário de uma loja em Santos - SP, e conta que se tornou lojista após uma frustração com uma revisão geral em uma Bike Shop da região.
O lojista diz que levou a sua bike em um estabelecimento que nem existe mais e depois de pagar a revisão geral ficou decepcionado, pois tudo foi lubrificado, mas o barro que estava no quadro continuou lá.
“Saindo dali, fui a todos os comércios especializados da região para adquirir ferramentas e fazer a manutenção em minha própria bicicleta. Posteriormente, fiz na de amigos e acabei montando a minha loja que já tem quase 20 anos”, orgulha-se Alisson.
São tantas emoções
Há algumas semanas, o proprietário de uma loja (que preferimos não identificar) reclamou das suas últimas contratações no setor de mecânica e comentou sobre um caso curioso de um dos funcionários que acabara de demitir.
O lojista contou que o funcionário faltou uma semana e durante esse período não deu notícias. Ao retornar, informou a todos que tivera a bike, o celular e a sapatilha roubados. Após algumas semanas confessou que a história foi inventada e só resolveu dizer a verdade porque acabara de se converter em uma religião e o líder espiritual orientou-o a nunca mentir.
Por mais irônico e bizarro que seja o fato, infelizmente esta e outras histórias que depreciam o setor são comuns e fazem parte do conhecimento de qualquer lojista ou cliente que necessitou de um serviço em uma loja desconhecida.
O consumidor César Augusto Góes, residente em São Paulo, conta que foi enganado em um comércio de bicicletas, próximo de sua residência pelo vendedor e o mecânico.
“Fui na bicicletaria trocar o movimento central, pois o mesmo já apresentava folgas. Paguei R$ 140,00 pela peça de uma marca de qualidade. Após algumas semanas tive os mesmos problemas e levei em um outro lugar. Descobri que o produto colocado era de uma marca bem inferior”, fala César.
Onde estão os mecânicos?
É comum ver lojas de bicicleta procurando desesperadamente um mecânico, que em muitos casos é parte vital do estabelecimento.
Carlos Henrique de Oliveira, o “Kiko”, acredita que há poucos profissionais especializados no ramo devido ao fato de poucos estudarem pensando em atuar com bikes.
“O profissional do ramo com formação, geralmente fez outro curso, como marketing, administração, educação física e outros. A grande parte tem o ramo de bicicletas como quebra galho”, cita “Kiko”, mecânico e proprietário de uma bike shop paulista.
A segunda turma de alunos já está tendo aulas. Sem dúvidas que a parceria da Aliança com o Senai é um passo importante, mas para que esse quadro seja revertido é necessário que mais instituições tenham esse tipo de treinamento para abastecer todo o país. Como exemplo as empresas Sram e Shimano, que fazem treinamentos profissionalizantes de seus produtos e tecnologias por todo o país.
“Vamos dar continuidade ao termo de cooperação criado entre a entidade e a escola por um longo prazo, para que mais pessoas possam adquirir o conhecimento passado através do curso”, finalizou o coordenador de cursos do SENAI, Valdir de Jesus, na nota publicada pela Aliança Bikes.
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